Para as grandes fundações, que têm planos enormes de benefício definido (BD), entra em cena também a maturidade dos planos. Criados há cerca de 30 anos, esses fundos têm agora a maioria de seus participantes já aposentados, o que aumenta o volume de pagamento de benefícios.
A Previ, por exemplo, planeja reduzir a aplicação em ações e aumentar em renda fixa nos próximos sete anos. Já a Petros pretende diminuir a fatia aplicada em participações acionárias relevantes de empresas e migrar para posições mais líquidas na bolsa e para títulos públicos.
“A alta da inflação e, por consequência dos juros, sugere a alocação em NTN-B como principal segmento de aplicação das fundações [este ano]. O prêmio pago atualmente cria conforto e um \’hedge natural\’ para as carteiras”, diz Guilherme Velloso Leão, diretor executivo da Abrapp, associação que reúne os fundos de pensão.
Os títulos públicos de longo prazo indexados ao IPCA estão pagando atualmente taxa de juros real de 6% ao ano. O boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central prevê uma Selic de 12,5% e IPCA em 7,01% ao fim de 2015.
“O risco não compensa”, diz Lauro Araújo, da Las Consultoria, especializada em fundos de pensão, ao pesar a relação entre risco e retorno dos ativos na atual conjuntura. Segundo ele, o prêmio pago pela renda fixa é muito alto para que os fundos de pensão busquem risco em outro lugar. “Investimento no exterior, em infraestrutura, energia alternativa, florestas, entre outros, perdem a atratividade neste momento”, avalia o consultor.
Na bolsa local, o escândalo da Petrobras e o risco de racionamento de água e energia devem garantir volatilidade ao mercado. Araújo, porém, vê oportunidade de compra com o Ibovespa abaixo de 44 mil pontos, caso não haja novos escândalos políticos e empresariais. “Ainda que o caso Petrobras azede, tudo isso já está no preço”, avalia.
Desde o ano passado, os fundos de pensão maiores estão vendo a aplicação em fundos de ações no exterior como uma alternativa à renda variável local. A Fundação Cesp aumentou o limite para aplicação no exterior, de 2% para 6% dos ativos, na política de investimento de 2015.
No ano passado, a fundação aplicou R$ 22 milhões fora do país, o que representa 0,1% do patrimônio de R$ 23,2 bilhões da Funcesp. “A ideia é que a gente chegue a 2% este ano e, à medida que o cenário evolua, ultrapassar isso”, conta Jorge Simino, diretor de investimentos do fundo de pensão.
Ele se refere à conjuntura da economia doméstica, que, além do ajuste fiscal e inflação pressionada, ainda deve enfrentar os efeitos do racionamento. “É um complicador a mais”, diz. Por conta das variáveis econômicas internas e externas, a Funcesp tem aumentado o seu caixa além do necessário para o pagamento de benefícios de curto prazo. “Temos que ter em caixa para pagar folha, mas a posição que temos é um tanto maior por conta do cenário.”
Já para a Previ, maior fundo de pensão da América Latina, a questão de liquidez está mais ligada à maturidade de seu maior plano de benefícios, que dentro de sete anos deve ter todos os seus participantes aposentados. Por conta disso, a fundação, que tem R$ 170 bilhões em patrimônio, terá apetite menor para novos investimentos em infraestrutura daqui para frente.
“Temos que conjugar a gestão da carteira com o fluxo de pagamento de benefícios. Pela maturidade do Plano 1, o apetite para grandes projetos diminui”, disse Marcio Hamilton Ferreira, diretor de investimentos da Previ, em entrevista recente ao Valor.
A fundação dos funcionários do Banco do Brasil também planeja reduzir em 10 pontos percentuais a alocação em ações, que hoje é de 60% dos ativos, até 2021. A Previ desembolsa R$ 9,5 bilhões por ano em aposentadorias e pensões.
A Abrapp ainda não divulgou o desempenho médio dos fundos de pensão em 2014, mas a expectativa é que as fundações não tenham atingido suas metas de rentabilidade. A meta do setor, que tem patrimônio de aproximadamente R$ 670 bilhões, é de cerca de 12% em 2014, equivalente a IPCA mais 5,5%. A associação estima que o setor fique aquém desse alvo em cerca de 1,5 ponto percentual.
Com isso, 2014 será o segundo ano consecutivo em que o setor não bate suas metas – em 2013, a rentabilidade foi de 3,28%, ante meta de 11,63%. Isso piora ainda mais a situação de fundações que têm déficit, casos da Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal), Fapes (BNDES) e Postalis (Correios).
Fonte: Thais Folego – Valor Online