O sentimento de que a economia se esboroa não deve mudar antes do segundo semestre, ao contrário. Mas não precisa ser assim, embora o espetáculo do crescimento das ruínas torne mais difícil a tentativa de alterar os ânimos para melhor. A baixa forte da confiança do consumidor em janeiro, para o rés do chão da desesperança em quase dez anos, é uma prova disso. Ainda assim, haveria o que fazer de modo a dar uma perspectiva menos sombria do futuro, o que em tese pode até acelerar a travessia do deserto.
Considere-se o caso dos mercados de dinheiro. A mudança de rumos na política macroeconômica tirou uma meia dúzia de bodes da sala. Embora horríveis, como quase de costume, as taxas de juros reais e de longo prazo estão mais comportadas, baixas, mesmo com as expectativas de inflação piorando.
É sinal de confiança de que as coisas “se ajustem”, que as contas públicas e os preços não se descontrolem. Os juros estão comportados mesmo com desabamentos e incêndios tais como Petrobras, falta d’água e de luz, Petrolão etc.
Decerto ainda estamos com água pelo nariz, desculpem a imagem inadequada. Mas há a perspectiva de que as contas do governo saíram do caminho do desastre a que chegariam daqui a um ano, por aí, mantido o mesmo rumo de Dilma 1.
Há o que fazer, pois. O governo, no entanto, ainda age de modo matuto, no pior sentido da palavra, pois imagina que restaurar a confiança significa passar uma conversa no público e fazer alguns favores.
Vide o faniquito do Planalto com a divulgação de um número ruim das perdas da Petrobras, como se o problema fosse esse, de esconder sujeiras maiores ou menores sob o tapete, como se quem interessa e entende do assunto fosse se iludir com as matutices do governo, como se politiquice menor remediasse alguma coisa. Mas ficamos nessa conversinha, “Dilma está uma arara”, “ligou fula pra Graça”, “foi ingenuidade política do conselho”, blá-blá-blá. Quem liga para essa jequice grossa? Jecas grossos.
A Petrobras está se desmilinguindo pois suas finanças são um mafuá, ninguém sabe quanto se gasta por lá, roubado ou não, porque investe 100 para receber 95, porque está sob o risco de não ter como pagar as contas nem ter como pegar emprestado, pois está sem crédito, ponto.
Coisas parecidas podem ser ditas sobre o setor elétrico. Sobre a lambança da administração da água. Etc.
Apresentar um programa de reforma da Petrobras seria um começo. Um plano de realismo nos preços da energia seria outro exemplo, agregado a um programa de reconstrução inteligente e de médio-longo prazo para o setor. Conviria colocar para funcionar rapidamente esses programas prometidos de desburocratização e simplificação de impostos (hoje o colunista acordou crente). Apresentar ontem o plano de concessões de infraestrutura, com preços e projetos bons.
Nada disso vai fazer logo efeito real. Mas deve arejar o ambiente. Dar perspectiva. Neste ano, a coisa vai ser feia. Recessão de 0,5%, por aí, desemprego maior, indústria ainda mais encolhida, a dívida pública ainda vai pular uns três pontos, para 66% do PIB, péssimas notícias para uma economia debilitada. Com desânimo persistente, a coisa não vai prestar.
Fonte: Vinicius Torres Freire